“Os sussurros insinuantes que de vez em quando chegavam aos seus ouvidos eram recebidos com um sorriso. Ele sabia que a sua mulher era especial. Amou-a desde a primeira vez que a tinha visto na casa da mãe, uma mulher curandeira esbelta, que tinha consultado para se livrar de uma dor na região lombar que o impedia de se endireitar. Desde então fingia muitas dores para ver a filha. Pouco depois casaram. Ela era tão bonita como a sua mãe e herdara a mesma desinibição. Ela contou-lhe à noite, esgotada e enrolada nos braços dele, todas as curas e falhanços do dia. Contou-lhe os seus receios, o seu apreço pelos castanheiros que não paravam de crescer e deixavam cair tantas castanhas.”
Uma obra na qual a emoção, aparentemente ausente, submerge subtilmente o leitor através de uma escrita lacónica. Com precisão clínica, Albertus Bouw narra breves histórias sobre personagens simples que se encontram numa fase decisiva das suas vidas. São ao mesmo tempo histórias de amor entre um homem e uma mulher. A serenidade e simplicidade das suas palavras levam a que a violência e crueldade adquiram uma dimensão inesperada.
