Uma abordagem sui generis do que é a vivência em Africa, sem paternalismos, sem lugares comuns nem observações superficiais. Um relato realista, incisivo, honesto e na primeira pessoa, que relembra em parte a epopeia de Capelo e Ivens. Mostra o melhor e o pior do que a vida nos atira neste Continente. A maneira como o Arão descreve as diversas situações que vai vivendo apela tanto a alguém que não conheça esta região, como mesmo a nacionais e antigos residentes que conseguem com esta obra rever a sua percepção do que representa esta mistura de privilégio e sacrifico que é nascer ou viver em Africa. O foco obviamente é Angola, mas somos agraciados com relatos que descrevem bem a dicotomia entre o urbano e o rural, as idiossincrasias e os aspectos culturais de ambos que representam quase dois países dentro do mesmo. As incursões transfronteiriças aos países vizinhos, como Namibia, Zimbabwe, São Tomé e Africa do Sul adicionam uma camada adicional de sabor, enriquecendo ainda mais este diário e descrevendo elementos que por vezes são pouco conhecidos, tanto fora de Africa, como dentro.
Márcio Castro