Teus cheiros ocres não incomodam nem mais seduzem. Tua aparência pestilenta, agora sei, é ilusória. Tu não és feia nem terrível. És necessária. És o bálsamo das dores insanáveis; o fim do ócio da existência; a mãe da eternidade e o recomeço da vida. Não te quero mal, como sei que não odeias ninguém. Simplesmente tu vens para completar o ciclo, porque não és o início do nada, mas o fim do tudo que foi a vida extinta. És promessa de eternidade; fé no recomeço cíclico da existência perpétua. Razão de que tudo tem e terá sentido; devanear dos incrédulos ateus, por contigo, o sem sentido da existência encenar seu ato derradeiro. És o que nós, tolos mortais, quisermos que sejas: foice agonizante das dores eternas; suplício dos sofrimentos carnais; trágico fim do amor desatendido; desilusão do filho desvairado; fim sereno de uma doce existência... Mas também és certa como as noites sem luar, as madrugadas sem sono e os ocasos de contemplação.
