“Crioula Sou, Crioula não sou”
Nascida em Cabo Verde e enviada aos cinco anos para um bairro de lata nos arredores de Lisboa, a narradora cresce entre capoeiras, um balde de dejetos e uma escola que também falha.
A sua infância é penhorada: violência, abusos, abandono e silêncio.
Narrado com uma voz crua e em primeira pessoa, o livro costura a memória íntima com a leitura social dos anos 90 – pautada por racismo discreto, pobreza institucional e a moral que absolve os homens enquanto estigmatiza as “bezerras”.
Das ilhas ao corredor das urgências do Hospital S. Francisco Xavier, a narrativa acompanha a queda dos seus agressores e o primeiro gesto de salvação – quando, finalmente, a escola vê o que a casa esconde.
Mais do que dor, é um relato de resistência: da formação de uma identidade entre dois mundos e de reconstrução de pertença quando a infância lhe foi negada.
Um testemunho raro da diáspora cabo-verdiana em Portugal, que ajuda a iluminar o que tantas vezes se chama “arrogância” e é, afinal, confiança forjada no abuso, força nascida da pobreza e humanidade teimosa.
