Eu sou já somente o fim deste caminho
O desconhecido, o impossível regresso
Eu sou o grito, a dor de que padeço
O resto de mim que o tempo levou em remoinho
Eu sou já só o olhar sombrio, sozinho
Eu sou o fim que a Deus clamo e peço
Eu sou talvez aquilo que mereço
Amarga história de quem tanto me avizinho
Eu sou a impiedosa negação do existir
A rasgada alma que a pedir
Procura em Deus a paz, a harmonia
Sou o desencontro, sou o longe, sou o perto
A doentia procura dum acerto
A irreal existência de outro dia
"Eu", Colectânea de poemas, simples. Obra que reflecte e deixa transparecer de certo modo o rosto de um certo conflito interior onde se cruzam sentimentos de várias ordens. O Amor, a Saudade, Abraços e "Desabraços" e Desilusões também.
No nosso pensamento existem caminhos sem regresso que nos obrigam a um constante ir sem sabermos tanta vez a que lugar, nem propriamente porquê. Uma permanente procura, um permanente desencontro, um permanente chegar e um permanente partir.
Tudo isto foi certamente a razão desta poesia.
Mário Vicente
