O Barco de uma Vida

Adriano Neto

Adriano Neto

No grande quintal da casa, onde todos os dias os oito irmãos e alguns rapazes do bairro da Fundação Popular e da zona de Água-Porca, em São Tomé e Príncipe, se juntavam espontaneamente para brincar, o pequeno Amaril destacava-se dos demais meninos. É que, durante a correria que faziam, mesmo que os restantes rapazes só arrancassem depois dele, o Amaril era sempre o último a chegar. Quando andava na rua, alguns meninos atiravam-lhe sorrisos trocistas e isso magoava-o e entristecia-o, criando nele sentimentos ambivalentes profundos.

Um certo dia, o pequeno Amaril fez um barco de papel e depositou-o no pequeno riacho que passava atrás da sua casa e comparou o percurso que o barquito iria fazer com a imagem da sua vida. Contudo, o seu pai, ao contrário, disse-lhe: “cada um de nós constrói o seu futuro e o seu destino e somos nós próprios quem devemos conduzir o barco a um porto seguro”.

O pai, o senhor Vitório, um funcionário público, sempre preocupado com a educação dos seus filhos, achava que essa era a única herança que lhes podia garantir. Assim, juntava os seus filhos e debatia com eles diversos temas, exortando-os à ideia de paz, de solidariedade e de um comportamento exemplar fora e dentro de casa.

A mãe, a Dona Chepa, à semelhança de outras mulheres no país, era doméstica. Para além do imenso trabalho que tinha, desdobrava-se em tarefas suplementares que trouxessem mais algum dinheiro para casa, de forma a suprir os escassos recursos financeiros.

Os rapazes do bairro, entretanto, cresceram e cada um seguiu o seu rumo. Quando o Amaril saiu do país para ingressar na Universidade de Coimbra, teve um único desejo: é que, para ter sucesso no estudo, houvesse luz elétrica que iluminasse a cabeceira da sua cama, em vez da ténue luz de velas que muitas vezes usava em São Tomé para estudar.

A história do Amaril é emocionante e narra uma multiplicidade de fatores sócio-económicos e culturais em São Tomé e Príncipe.

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