Rendas do Meu Decote, empresta o nome a um conjunto de narrativas na primeira pessoa, anunciando tempos, espaços, terras, cantos e esquinas da vida e na vida das gentes, que sobem ao palco das minhas memórias. Nesta forma corajosa, audaz e destemida, despem-se de preconceitos, numa desnudada simplicidade de se ser gente de corpo inteiro.
Dos nove contos que edificam estas Rendas do meu decote, todos eles, com excepção de “Entre a terra e o Mar”, são pertença do mundo real, do acontecimento, da vivência, das gentes com rosto, com nome, com sentimentos e emoções. Com vidas próprias na dependência de si e dos outros, albergando dores e cansaços, alforrias e mais-valias.
Os nomes dos homens e das mulheres que vivem nestas páginas, surgem na forma fictícia. A Isabel não era Isabel, nem o Orlando era Orlando, nem mesmo a Joana era Joana. Todavia, os locais e terras onde nasceram, cresceram, viveram ou passaram a viver, almofadam com toda a veracidade, estas narrativas, inscrevendo-as no movimento da “História da Oralidade”, num propósito de reabilitação de cada personagem e da construção da Memória Colectiva de um Povo.
Escutei gemidos sussurrados,
Prantos alagados,
Vi olhares poisadas nas mãos plissadas,
Senti o arfar do coração.
Limpei com as costas das minhas mãos,
Lágrimas soltas, nos meus e nos olhos seus.
Entendi, deixei-me entender,
Alisei o manto que me cobria
Para que não me sufocasse o pranto
E pudesse haver dia.
Escutei.
