Tu

André Draak

André Draak

Acordo. Tu não estás deitada a meu lado. Da sala de banho, chega-me a luz ténue e instável de uma vela e eu compreendo: hoje é quinta feira. Melhor, ontem era ainda quinta feira, quando um carro te veio buscar para a semanal noite das mulheres. Mas agora é sexta feira e Sandra, a amiga que te conduz nestas noites, já deve estar em casa. Tu terminas o duche e apagas a vela. Abertas, as cortinas da janela deixam a luminosidade da noite invadir o nosso quarto e eu espreito a aproximação da tua magnífica nudez. Sentas-te no teu lado da cama a avaliar o meu estado de consciência. Talvez eu devesse perguntar-te como se passou a noite. Talvez devesse lançar-me para cima de ti. Talvez devesse puxar-te para cima de mim. Talvez devesse agarrar-te e colocar-te de cócoras, virada para a janela de cortinas abertas, e uivar à lua. Mas finjo que durmo. Tu olhas para mim e finges que durmo. Vestes a camisa de dormir transparente que guardas debaixo da almofada. Deitas-te. Dentro de meia hora, o despertador vai tocar, fingindo que me acorda. E eu vou acordar, fingindo que dormia.

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