Procura-a. Incansável busca-a. Tem-na aí á mão, mesmo à mão de semear. Afadiga-te repetindo que a não encontras, sabes que não é objetiva, palpável. Sabes bem que a não podes dar, oferecer, mas sabes melhor que a podes distribuir, espalhar, partilhar. Não é quente nem frio e do morno nem te lembras. Querem-te assim, nessa dor que os olhos não espelham. Por isso acreditam no teu olhar e acreditam que vês, que não sabendo, sabes que não sabes.
E veio, não porque tinha que vir. Veio apenas. Aconchegou-te, recolheu-te, partiste. Foste mais forte que a força, desassombraste-te. Ninguém quer a saudade, todos desejam o teu olhar, o teu novo abraço.
Embala-te ao relento e acorda num palácio revestido a ouro. Adormece num leito e desperta numa enxerga. Tens o ânimo da cotovia e a calma do arrebol.
Não te abandonará, ficou e permanece, continuará.
- Procurei-te, busquei-te, esgravatei todos os sítios, vieste.- Que queres?
- Ninguém creditava em mim e tu surges em forma de assim.
- Continuo sem saber o que desejas.
- A ninguém direi adeus, partirei contigo deixando-te aqui. Seguiremos para longe levando connosco o abraço de todos.
- Se aqui me deixas, como poderei regressar?
- Não regressas, és. Todos te viam, te vêm, apenas eu sem o saber te procurava. Outros se juntam, se juntarão.
- Estás cego, não vês. Sou o engano.
- E eu enganei-te. Vamos embora.
- Irei contigo, não ficarei, não me deixam, não posso, matam-me.
- Disseste-o: sou o engano. Que te matem à vontade.
- Mas tu enganaste-me. Condenaste-me á vida.
- Escolheste, queres viver, por isso vem, vamos daqui que jamais daqui sairemos.
- Partamos que se faz tarde.
- Quem fica nunca tarda, vamos que está na hora.
- Já aqui estava, gostei de por aqui ter passado.
