O Resineiro

Hermínio C. Francisco

Hermínio C. Francisco

O animal passou o seu último dia de vida caladinho que nem um mudo, e só começou a berrar quando se sentiu agarrado e amarrado em cima da mesa da matança.

Nunca tal tinha acontecido, e logo a Maria Ferra se apressou a dizer que aquilo era mais um sinal, um mau sinal.

Aquilo preocupou algumas pessoas, principalmente mulheres, mas a maioria estava-se cagando para bruxas e bruxedos, o que queriam era ferrar o dente numas febras na brasa.

Para o Alberto Resineiro tudo aquilo não passavam de patranhas de gente atrasada que tinha medo da escuridão da noite.

Ele estava habituado a percorrer caminhos solitários, fosse de noite ou de dia, e nunca encontrara qualquer alma-penada, por isso o seu lema era como o de São Tomé, ver para crer.

Felizmente que a sua mulher, a Maria das carvalhas também não era crente em coisas de bruxas, mas haviam outras que não eram tão descrentes.

Já o porco estava a ser desmanchado na grande mesa do terreiro da casa da Ti Aurora quando a Caridade, uma vizinha, se aproximou da Maria e lhe cochichou ao ouvido -- Ó Maria, tu achas mesmo que isto do porco não chiar é sinal de azar?

Mas qual azar, deixa-te dessas coisas, isso é crendice de gente burra, e já estou como o meu Alberto diz, devemos é ter medo dos vivos, pois os mortos não fazem mal a ninguém.

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