INSTANTE
Pingente álacre de luz;
Tão novo
Que se diria que ainda não;
Indemne a pólenes
Repousados na noite das corolas;
Pendente em abandono
No balouço inicial do vento;
Diáfano em brilho;
Ventre de todas as cores,
No parto do sol;
Promessa silente
Do que, por ora, não sabe.
Gota de orvalho
Na velhice de um galho
Que estar já não deveria.
E há o instante,
Em que assisto
Da janela do meu quarto de passagem,
À inevitabilidade insuportável da brisa.
Intocada,
Grávida de luz,
Desprende-se
Sem queixa.