Morrer hoje apenas para que amanhã se continue a morrer

Júlio Pereira

Júlio Pereira

Carlos é vitimado pela doença de Alzheimer, o que o impede de escrever o último volume da tetralogia que havia iniciado com “O Filho das Ervas”.
A esposa, de uma dedicação extrema, reúne os apontamentos e memórias do marido, recolhe depoimentos de amigos e inicia a difícil tarefa de escrever esse livro, não apenas para o homenagear, mas também na esperança de que, avivando a recordação de factos passados, lhe poder proporcionar algum alívio da doença e trazer-lhe escassos momentos de felicidade.

A narração vai percorrendo a vida de Carlos, ao mesmo tempo que passa em revista os acontecimentos mais significativos dos últimos anos da guerra em África, como os massacres de Wiriyamu, em Moçambique; a colaboração da UNITA com as tropas portuguesas, em Angola e, na Guiné, a invasão de Conacri, o cerco de Guidage e a reação contra a base de Cumbamori no Senegal, o polémico abandono de Guilege, a debandada de Gadamael e o aparecimento dos mísseis Strella, eliminando o poder aéreo das forças portuguesas.

Este livro alterna o drama pessoal de Carlos e da esposa com o drama vivido na Guiné por António de Spínola, talvez o primeiro General português a tomar consciência de que a guerra subversiva não podia ser ganha militarmente, competindo-lhe travá-la apenas durante o tempo necessário para permitir uma solução política, a qual foi recusada pela teimosia dos governantes que não percebiam que “não podemos admitir que hoje se morra apenas para que amanhã se continue a morrer”.

A narração segue igualmente um fio condutor que leva à explicação da origem do Movimento dos Capitães e ao golpe militar do 25 de abril, que a dinâmica dos acontecimentos transformaria mais tarde numa verdadeira revolução popular.

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